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 Texto 6 

Uma cena, várias visões

A composição é uma “ciência oculta” que ocupa algum lugar entre a precisão geométrica e a intuição. Os estudos mostram que há alguns elementos que traduzem um pouco da intenção do autor. Sim, esse é o ingrediente principal da “arte da composição”: a intenção. Reunindo diversos pontos dessa “arte”, escolhi tomar uma única cena, cinco registros diferentes e apontar as diversas escolhas que sustentam e reforçam a mensagem que desejo transmitir. 

Na Fotografia 1, temos um homem em postura de meditação, sobre o eixo sentido, imprimindo a noção de equilíbrio. A Imagem 1 destaca a centralidade do elemento principal. A parte mais escura do piso (1) está em equilíbrio dinâmico com as folhas e galhos (3), enquanto que a linha do horizonte (2) está distante dos limites, conferindo uma certa “tranquilidade” à composição. O espaço negativo da neblina (4) induz a pensar que a pessoa está equilibrada e consegue efetivamente "esvaziar" a sua mente. A direção vertical dos outros elementos (poste e o tronco da árvore) confere um dinamismo moderado. A atenuação das tensões sugere que a pessoa consegue manter-se em equilíbrio na sua prática.   

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Fotografia 1

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Imagem 1

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Há um intencional aumento de tensão na Fotografia 2. A câmera foi posicionada mais junto ao solo e a distância focal foi reduzida, aumentando o espaço ocupado pelos galhos e folhas da árvore. A Imagem 2 ainda exibe a centralidade do sujeito sobre o eixo sentido. Entretanto, o piso (1) está em menor proporção em relação aos elementos superiores em face do rebaixamento da linha do horizonte (2). As folhas e galhos (3) ocupam uma porção maior da cena e, junto com a neblina que ganhou textura (4), tende a trazer mais elementos “perturbadores”. O desafio para o homem é maior: manter tranquilidade na presença desses novos “ingredientes”. Aqui, o homem e a natureza disputam o protagonismo.

Fotografia 2

Imagem 2

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A Fotografia 3 insere um novo elemento. Os personagens agora são dois homens, um em contemplação e o outro exercendo o seu trabalho. Na Imagem 3, a parte mais escura do piso (1) está em equilíbrio com as folhas e galhos (3), enquanto que a linha do horizonte (2) se aproxima levemente do limite inferior. Não há muita tensão, uma vez que as folhas e galhos (3) têm pouco peso visual e a neblina (4) tem pouca textura. Aqui, a mensagem é: a cidade comporta todos – uns em prática meditativa e outros trabalhando. Não lembra a passagem do evangelho de Lucas (Lc 10, 38-42) sobre Jesus em presença das irmãs Marta e Maria? Aqui, a opção é por Maria (ou seja, o homem sobre o eixo sentido), pois “Maria escolheu a melhor parte” – as tarefas do espírito.

Fotografia 3

Imagem 3

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Na Fotografia 4, temos uma significativa redução das altas luzes em detrimento das massas escuras quase totalmente pretas. A Imagem 4 mostra o eixo sentido  apoiado sobre o homem que trabalha, tornando-o mais importante do que o homem que medita. A cena é dominada pela pela massa escura do piso (1) e pela textura das folhas e galhos (2), cujo peso visual foi acentuado pela redução da distância focal. Dessa vez, a ideia é mostrar a dominância dos elementos naturais sobre os humanos, que aparecem com reduzido peso visual. A direção vertical do quadro reforça essa intenção.

Fotografia 4

Imagem 4

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A Fotografia 5 mostra uma mudança significativa: a direção horizontal do quadro (a primeira escolha de composição!). A Imagem 5 mostra o eixo sentido apoiado sobre o homem que medita. As partes escuras do piso (1) exibem alguma textura em equilíbrio com a textura das folhas e galhos na porção superior. A linha do horizonte (2) não tem um peso significativo, uma vez que está relativamente próxima do centro. Há alguns elementos que tendem a quebrar essa “monotonia”: a convergência para o centro dos elementos verticais (troncos e poste), o acentuado contraste de tons e a textura das altas luzes (3). Assim como na Fotografia 2, o homem é desafiado a manter sua concentração nesse “mundão” que o cerca.

Fotografia 5

Imagem 5

Esse estudo reuniu um pouco do conhecimento em torno da “arte da composição”. A ideia foi mostrar que há uma intenção na escolha dos elementos compositivos como direção, distribuição dos pesos visuais, contraste de tons, altura da linha do horizonte etc, a fim de reforçar o que o fotógrafo sentiu ao capturar e editar a foto. Tomando emprestado um postulado do design (e alterando-o ligeiramente), a forma segue a intenção

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