Texto 13
“Eu sempre fotografo o que me surpreende”
Graciela Iturbide nasceu em 1942 na cidade do México e lida com a fotografia desde os 11 anos de idade, quando ganhou uma câmera de presente. Ela se graduou em cinema na Universidade Nacional Autônoma do México, mas foi atraída definitivamente pela fotografia em 1970. Iturbide, inicialmente, trabalhou como assistente de seu professor, o modernista mexicano Manuel Álvarez Bravo.
Ainda no início da década de 1970, Iturbide viajou pela América Latina, em especial para Cuba e diversas viagens para o Panamá. Em 1978, foi contratada pelo Arquivo Etnográfico do Instituto Nacional Indígena do México para fotografar a população seri, um grupo de nômades no deserto de Sonora, no noroeste do país, na fronteira com o Arizona, EUA. Com o antropólogo Luis Barjau, Iturbide permaneceu na comunidade de Punta Chueca, com 500 pessoas, por cerca de dois meses. “Eu morava com elas em suas casas, para que as pessoas se acostumassem comigo e com a câmera”. Nessa ocasião, ela fez “Mulher-Anjo, Deserto de Sonora” (fotografia nº 1).

Fotografia nº 1
Nela, uma mulher seri em uma encosta assume uma persona mítica, parecendo quase flutuar sobre a terra. No entanto, o gravador que ela carrega na mão — recebido de americanos em troca de cestos e esculturas — a conecta ao momento contemporâneo.
No ano seguinte, Iturbide recebeu outra encomenda, desta vez em Juchitán, uma cidade localizada no estado de Oaxaca, sul do México. Parte da cultura zapoteca, o povo Juchitán é uma comunidade indígena conhecida por elevar mulheres a posições de autoridade. Nos seis anos seguintes, Iturbide passou longos períodos na localidade, compartilhando experiências, participando de cerimônias e se aprofundando na cultura local. Em 1989, ela publicou suas fotografias dessas experiências no livro “Juchitán de las Mujeres”. Entre as muitas imagens que surgiram dessa série, está “Mujercita” (Fotografia nº 2), que retrata uma menina carregando um cachorro e que destaca sua expressão, síntese do poderoso papel das mulheres nas comunidades zapotecas.

Fotografia nº 2
Dessa experiência em Juchitán, há uma outra fotografia icônica: na “Nuestra Señora de Las Iguanas” (Fotografia nº 3), a mulher se amalgama com os répteis, criando um tipo de ser mítico, assim como a Medusa. A fotografia também evoca a imagem religiosa da Virgem de Guadalupe.

Fotografia nº 3
As fotografias números 4, 5 e 6 ainda são da série capturada em Juchitán e refletem o protagonismo feminino naquele grupo social.

Fotografia nº 4

Fotografia nº 5

Fotografia nº 6
As fotografias nº 7 reflete a força da mulher que vive em regiões desérticas do México.

Fotografia nº 7
Impactada pela perda da filha ainda criança e inserida na forma mexicana de tratar a morte, Iturbide produziu imagens poderosas com esta temática (Fotografias números 8, 9 e 10). A cultura mexicana mantém, desde a era pré-colombiana, uma certa reverência em relação à morte, manifestada em celebrações sincréticas como o Dia dos Mortos. O culto é criticado pela Igreja Católica, mas está firmemente entranhado nas tradições populares.

Fotografia nº 8

Fotografia nº 9

Fotografia nº 10
Graciela Iturbide é considerada uma das fotógrafas latino-americanas mais importantes e influentes das últimas quatro décadas. Sua fotografia é da mais alta força visual e beleza. Ela desenvolveu um estilo fotográfico baseado em seu forte interesse pela cultura, pelo ritual e pela vida cotidiana em seu México natal e em outros países. Iturbide ampliou o conceito de fotografia documental para explorar as relações entre o homem e a natureza, o individual e o cultural, o real e o psicológico.
Alguns dos trabalhos recentes de Iturbide documentam refugiados e migrantes. Em sua obra "Refugiados" (2015), ela oferece um forte contraste entre amor e família, perigo e violência, mostrando uma mãe sorridente segurando seu filho em frente a um mural pintado à mão pontilhado por zonas de segurança e perigo (fotografia nº 11) e um emigrante em frente a um mural com os fatos relacionados à imigração e violência (fotografia nº 12).

Fotografia nº 11

Fotografia nº 12
Fontes de imagens e de pesquisa:
https://www.moma.org/artists/2844-graciela-iturbide
https://www.theguardian.com/artanddesign/2012/sep/19/graciela-iturbide-best-photograph
http://www.gracielaiturbide.org